A Vida a Três

Hoje, o Gonçalo teve o primeiro "contacto" com os amigos da escola e com a educadora.  Escrevo "contacto" entre aspas, porque nada substitui o contacto físico, os abraços, o olhar olho-no-olho , o sentir a presença do outro ali bem ao lado. Foi nas circunstâncias que a realidade exige. Foi diferente, mas igualmente bom. Aconchegante.  É um mini regresso à rotina, mas fora dela. A vida tem sido muito assim. Uma anormal normalidade. Estamos todos juntos, mas cada um no seu espaço. A lidar, o melhor que podemos, com essa reviravolta que o mundo deu.  Confesso que me emocionei ao ver aqueles meninos, que outrora, se juntavam numa sala a brincar, a crescer como seres sociais, confinados, agora, a estarem juntos em frente a um objeto. Emocionei-me ao ver que a alegria de estarem juntos, mesmo que seja através de um ecrã, continua a mesma... porque o amor, esse, floresce em qualquer lugar...  E como disse o Gonçalo no fim: "Outra vez?"

Longe dos meus, fisicamente, mas sempre agarradinha a este pedacinho de amor. Um dia feliz .

Isolamento. Quarentena. Distanciamento. Palavras que assustam e que, nem por sombras, imaginaríamos ter de conviver tão de perto com elas. A vida lá dá o seu jeito de nos mostrar que o controlo é algo que não está assim tão ao nosso alcance. E, lá nos vamos adaptando a essa nova realidade. A medo. A custo. Mas, com a certeza de que estamos todos {ou deviríamos estar} no mesmo barco.Que essa nova realidade é comum a todos. Cada um a sente na pele de maneira diferente. Cada um a veste como sabe ou pode. Por cá, já estamos há um mês em distanciamento social. Sem contacto físico com a família e amigos. No nosso canto. Os dois. Há dias mais fáceis do que outros. Como tudo na vida. A incerteza deita-se na cama todos os dias e dá o seu arzinho de graça pela madrugada fora. Mas a vida é mesmo assim. Incerta. E temos de conseguir acompanhá-la no seu mistério. De nada vale reclamar. Lamentar. Sei bem o que esses verbos representam. Conheço-os de perto. E sabem? Não resolveram nada.